Deitar
e apenas olhar para o teto ... lembro-me que quando criança contava as telhas
para que o sono viesse, nunca conseguia contar carneirinhos, sempre me apeguei
ao real tentando fazer dele o imaginário. Brincávamos de quem conseguiria
adivinhar onde o outro estava lendo tal
nome, olhando pra cima eu sempre lia o nome na telha, assim todos começaram a
adivinhar onde eu estava lendo, um dia eu perguntei quem sabia onde eu estava lendo “telha”
ninguém adivinhou, porque na verdade eu estava fazendo uma leitura de signo não
verbal (imagem), isso marcou minha
criatividade.
Essas
telhas me viram crescer, contemplaram minhas variadas expressões de quando ia
me deitar, essas que representam como foi o nosso dia. No ano de 2009 as 00:00
do dia 12 de setembro, meu telhado viram meus olhos abrirem com um susto e o
sorriso na minha boca, desesperada levantei e abri a porta, vi uma das cenas
mais bonitas da minha vida que até hoje não saiu da minha cabeça, eram meus
amigos acompanhados do som de um violão e barulho de estouros de bexigas, as
vozes quase não saindo de tanto que sorriam e gritavam ao mesmo tempo em um
refrão que dizia assim:
“
Alguém está batendo na portinha do seu
coração, laiá, laiá, laiá, laía ... Ô Isa, abre a janela queridaaaaaaaaa... que
a serenata que eu façoooooo... é dedicada a você!”
Naquela
noite eu completava 15 anos.
Certa
vez apareceram morcegos no teto, eu e meus amigos planejamos como os tiraríamos
de lá, estava iniciado a “caça aos morcegos”, todos embrulhavam-se com toalhas,
exceto um de nós que se embrulhou com uma rede, treinamos antes de entrar onde
os morcegos estavam, combinamos que
quando eu dissesse “olha o morcego” todos abaixariam. O resultado é que os
morcegos no telhado nos causaram muitos gritos e risos, até o meu pai dar um
jeito e os tirar de lá.
Teve
uma noite que de tão cansados eu e meu amigo deitamos e olhamos para o telhado,
eram 22:00h e desde as 13:00 estávamos fazendo um trabalho para entregar no dia
seguinte, com a cabeça cheia e a barriga vazia dávamos risadas e um falava pro
outro oque no momento via no teto, eu certamente só conseguia ver muita comida,
ele imaginava sanduiches caindo sobre nós, ao lado tinha um ventilador velho,
meu amigo o girou falando que era uma roleta e juntos começamos a bater palma e
ao invés de pedir mil reais pra Priscila e Yudi pedíamos comida. Eu nunca senti
tanta saudade dos trabalhos de escola.
No
fim do ano estávamos a um passo para nos tornarmos mais responsáveis, talvez
não todos os meus amigos que compartilhavam aquele momento, mas de certa forma
sabíamos que muitas coisas mudariam; naquela noite fizemos uma noite do pijama,
a última que fizemos com todos juntos. Depois de muitos risos e segredos revelados,
debaixo do meu telhado abraçávamos e prometíamos não nos separar; não sei dizer
oque aquela noite representou pra mim, mas sei que ainda choro quando me lembro
dela.
Hoje
deitada olhando para o telhado que não sei se posso chamar de meu, começo a
lembrar desses acontecimentos. No momento o telhado está acima de uma moça um
pouco criança, mas um tanto responsável, que já não dorme mais toda noite
debaixo desse telhado na casa dos pais, tem uma vida corrida e mal senta pra
escrever textos a não ser redações e projetos, ela se veste diferente e sabe
disso quando olha as fotos, fotos marcam a nossa mudança física; também ler
alguns textos antigos que escrevia sobre oque achava da vida, pensamentos
escritos marcam como as ideias mudam ao longo do tempo; seu telefone toca, são
seus colegas da universidade, novos amigos demonstra novas características;
ouve um grito lá fora e barulho de pessoas que já entram em seu quarto como se
fossem de casa, a permanência dos velhos amigos, mostra que não perdemos a
essência.