sábado, 4 de agosto de 2012

Acima de mim



Deitar e apenas olhar para o teto ... lembro-me que quando criança contava as telhas para que o sono viesse, nunca conseguia contar carneirinhos, sempre me apeguei ao real tentando fazer dele o imaginário. Brincávamos de quem conseguiria adivinhar  onde o outro estava lendo tal nome, olhando pra cima eu sempre lia o nome na telha, assim todos começaram a adivinhar onde eu estava lendo, um dia eu perguntei  quem sabia onde eu estava lendo “telha” ninguém adivinhou, porque na verdade eu estava fazendo uma leitura de signo não verbal  (imagem), isso marcou minha criatividade.
Essas telhas me viram crescer, contemplaram minhas variadas expressões de quando ia me deitar, essas que representam como foi o nosso dia. No ano de 2009 as 00:00 do dia 12 de setembro, meu telhado viram meus olhos abrirem com um susto e o sorriso na minha boca, desesperada levantei e abri a porta, vi uma das cenas mais bonitas da minha vida que até hoje não saiu da minha cabeça, eram meus amigos acompanhados do som de um violão e barulho de estouros de bexigas, as vozes quase não saindo de tanto que sorriam e gritavam ao mesmo tempo em um refrão que dizia assim:
Alguém está batendo na portinha do seu coração, laiá, laiá, laiá, laía ... Ô Isa, abre a janela queridaaaaaaaaa... que a serenata que eu façoooooo... é dedicada a você!”
Naquela noite eu completava 15 anos.
Certa vez apareceram morcegos no teto, eu e meus amigos planejamos como os tiraríamos de lá, estava iniciado a “caça aos morcegos”, todos embrulhavam-se com toalhas, exceto um de nós que se embrulhou com uma rede, treinamos antes de entrar onde os morcegos estavam,  combinamos que quando eu dissesse “olha o morcego” todos abaixariam. O resultado é que os morcegos no telhado nos causaram muitos gritos e risos, até o meu pai dar um jeito e os tirar de lá.
Teve uma noite que de tão cansados eu e meu amigo deitamos e olhamos para o telhado, eram 22:00h e desde as 13:00 estávamos fazendo um trabalho para entregar no dia seguinte, com a cabeça cheia e a barriga vazia dávamos risadas e um falava pro outro oque no momento via no teto, eu certamente só conseguia ver muita comida, ele imaginava sanduiches caindo sobre nós, ao lado tinha um ventilador velho, meu amigo o girou falando que era uma roleta e juntos começamos a bater palma e ao invés de pedir mil reais pra Priscila e Yudi pedíamos comida. Eu nunca senti tanta saudade dos trabalhos de escola.
No fim do ano estávamos a um passo para nos tornarmos mais responsáveis, talvez não todos os meus amigos que compartilhavam aquele momento, mas de certa forma sabíamos que muitas coisas mudariam; naquela noite fizemos uma noite do pijama, a última que fizemos com todos juntos. Depois de muitos risos e segredos revelados, debaixo do meu telhado abraçávamos e prometíamos não nos separar; não sei dizer oque aquela noite representou pra mim, mas sei que ainda choro quando me lembro dela.
Hoje deitada olhando para o telhado que não sei se posso chamar de meu, começo a lembrar desses acontecimentos. No momento o telhado está acima de uma moça um pouco criança, mas um tanto responsável, que já não dorme mais toda noite debaixo desse telhado na casa dos pais, tem uma vida corrida e mal senta pra escrever textos a não ser redações e projetos, ela se veste diferente e sabe disso quando olha as fotos, fotos marcam a nossa mudança física; também ler alguns textos antigos que escrevia sobre oque achava da vida, pensamentos escritos marcam como as ideias mudam ao longo do tempo; seu telefone toca, são seus colegas da universidade, novos amigos demonstra novas características; ouve um grito lá fora e barulho de pessoas que já entram em seu quarto como se fossem de casa, a permanência dos velhos amigos, mostra que não perdemos a essência.  

Um comentário:

  1. Como o ser humano é rico... Acho incríveis essas coisas tão próprias (como seu telhado) que só quem criou pra si sabe como explicar.

    Lindo texto, Isa.
    Escreva!
    ;*

    ResponderExcluir